Charles Darwin no Brasil

Diversos

O naturalista inglês Charles Darwin saiu da Inglaterra em 27 de dezembro de 1831 à bordo do HMS Beagle e dedicou várias páginas de sua estadia no Brasil, na sua viagem de cinco anos ao redor do globo. As visitas dele, em 1832 e 1836, podem ser resumidas em dois pontos, que enumero a seguir.

Darwin não gostou muito do que viu quando o assunto foi a escravidão e o colonialismo.   Acho que não contaram para o Charles Darwin que os ingleses eram os que mais financiavam a escravidão ao redor do mundo. E que era o país mais colonialista do mundo.
O fato é que ele descreveu as coisas que ele não enxergava (ou não queria ver) em seu próprio país. Ele devia ver crianças e mulheres amontoadas em portas de fábricas inglesas, brigando por migalhas, sem se dar conta da “revolução” que estavam vivendo. O Brasil sempre foi colônia de exploração e, em muito, sustentada pelos próprios ingleses.

O mundo não mudou muito desde então.

PRIMEIRO PONTO – O RUIM:
Quando esteve no Recife, se impressionou com a brutalidade das pessoas e escreveu: “É uma terra de escravidão, portanto de decrepitude moral!”

Em sua travessia pelo norte fluminense, Darwin deparou-se também com os horrores da escravidão. Dois episódios lhe marcaram profundamente. Um deles aconteceu na Fazenda Itaocaia, em Maricá, a 60 km do Rio, no dia 8 de abril, quando um grupo de caçadores saiu no encalço de alguns escravos. A certa altura, os foragidos se viram encurralados em um precipício.

Uma escrava preferiu atirar-se no abismo a ser capturada pelo capitão do mato. “Praticado por uma matrona romana, esse ato seria interpretado como amor à liberdade”, escreveu Darwin. “Mas, vindo de uma negra pobre, disseram que tudo não passou de um gesto bruto”.

Após sair do Brasil escreveu: “Nunca mais ponho os pés em um país escravocrata!” E continuou: “No Recife um jovem mulato era constante e brutalmente espancado pelo seu senhor. Até hoje, quando escuto um grito na madrugada penso que é um escravo brasileiro e tremo todo.”

Ele ainda contava que, em Salvador e no Rio de Janeiro, as donas de casa tinham tarrachas para esmagar as articulações dos dedos dos escravos domésticos. E ainda frequentavam as missas dominicais onde diziam “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

SEGUNDO PONTO – O BOM:
Mas não foi apenas isso. O naturalista passou por Niterói em 1832 e, para deixar isso registrado na história, foram criados os Caminhos de Darwin, uma estrada de cerca de 2 km de extensão no Parque Estadual da Serra da Tiririca, no meio da Mata Atlântica, e é usado por ciclistas, cavaleiros e andarilhos.

Essa passagem foi retratada na revista National Geographic, na edição de fevereiro/2009, especialmente dedicada ao naturalista, que a descreveu em seu diário: “Uma exuberância jamais vista”.

Durante sua expedição, que deveria durar apenas um ano e durou cinco, Darwin estudou a fauna e flora brasileira enquanto esteve por aqui.

Foi a partir dessa expedição que Darwin escreveu o livro ‘A Origem das Espécies‘, lançado em 1859. Ele também publicou a ‘Viagem do Beagle’, com suas memórias da viagem e um diário sobre diversas áreas de estudo, como a antropologia, biologia e geologia.

Darwin visitou Salvador, embora Fernando de Noronha tenha sido o primeiro ponto de parada no Brasil. Ele ficou encantado com a natureza da região. Dizem que ele foi surpreendido por uma tempestade tropical e escreveu no seu diário: “Procurei me abrigar debaixo de uma árvore, cuja copa cerrada seria impermeável à chuva comum da Inglaterra. Aqui, porém, após alguns minutos, uma pequena cachoeira descia pelo enorme tronco”.

Mas ele continuava encantado por Salvador. “Delícia é termo insuficiente para dar conta das emoções sentidas por um naturalista que, pela primeira vez, se viu a sós com a natureza no seio de uma floresta brasileira”, escreveu.

Darwin ainda conheceu o Carnaval baiano e a festa não o agradou. Ele e seus companheiros de viagem, Wickham e Sullivan não se intimidaram. Havia um enorme perigo que consistia em serem “fuzilados com bolas de cera cheias de água e molhados com esguichos de lata”. Darwin não gostou muito. Ensopado, ele ainda foi coberto por farinha e resmungou: “Difícil manter nossa dignidade”.

Depois de vários dias em Salvador, ele viajou até o Rio de Janeiro, onde ficou quatro meses. Durante a viagem, Darwin se maravilhou com a quantidade de espécies que viu, tanto fauna, como flora. Segundo uma matéria da revista Superinteressante, ele se encantou tanto pela bananeira que sugeriu que o pai plantasse um pé em casa. O pedido foi acatado, mas a árvore cresceu tanto que ocupou quase toda sua estufa.

Ele ainda fez uma grande coleta de insetos, plantas e aves, que foram analisadas e classificadas em Londres.

Mas, de volta aos problemas enfrentados no Brasil, está um que ainda não conseguimos superar: a burocracia. Desde essa época, o país já era assolado por essa praga. Para se ter uma ideia, para poder explorar o interior do estado, ele precisou de uma autorização que demorou alguns dias para ser concedida.

Sobre esse episódio, ele escreveu: “Nunca é agradável submeter-se à insolência de homens de escritório. Mas aos brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis às suas pessoas, é quase intolerável”.

Durante todo o tempo que ficou no Rio, Darwin se hospedou em uma casa em Botafogo. E seu grande prazer era ver o por do Sol no jardim. Ainda segundo o naturalista, a beleza natural do Rio faria qualquer um “lamber o pó da sola dos pés de um brasileiro”.

NOTAS:
1- Einstein esteve no Brasil em 1925 e sua passagem por aqui não o fez sentir nenhuma saudade. A política, o calor e a burocracia fizeram Einstein preferir qualquer outra coisa a voltar para cá.
2- No primeiro mandato do presidente Lula, tanto ele como o Brasil estavam em alta no mundo todo. O então presidente norte-americano, Barack Obama em visita ao Brasil, fez de tudo para chamar a atenção do presidente brasileiro e levou uma bela “rasteira”.

E tivemos outros episódios lamentáveis de dirigentes estrangeiros que não foram bem recebidos por aqui.

 

Texto de Renzo Grosso, com adaptações de publicações diversas.

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