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Cotidiano

“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros” é a adulteração do sétimo mandamento do chamado Animalismo, na história satírica “A Revolução dos Bichos“, publicado em 1945 pelo escritor inglês George Orwell.

O livro, que tem como pano de fundo a Revolução Russa de 1917, conta a história da revolução dos animais de uma fazenda contra a opressão humana. Depois de terem expulsado o proprietário e assumido o poder na fazenda, os animais instituem o Animalismo, conjunto de novas regras resumidas em sete mandamentos: aquele que andasse em duas pernas era inimigo, o que andasse em quatro patas ou tivesse asas era amigo, os animais não podiam vestir roupas, dormir numa cama, beber álcool, matar outro animal e, o mais importante, todos os animais eram iguais.

Com o passar do tempo, os porcos, tidos pelos outros animais como letrados e os mais inteligentes, começam a alterar todos os sete mandamentos para tirar partido do conforto e superioridade, enquanto os outros animais, iletrados e menos inteligentes, trabalham arduamente em troca de um pouco de ração.

Ao sétimo mandamento do Animalismo “Todos os animais são iguais”, os porcos acrescentam “mas alguns são mais iguais que outros”. Esta mudança acaba, de certa forma, por ser um resumo do livro, que termina de maneira tão atual como um jornal: “já não é possível distinguir a cara dos porcos da dos homens”.

A aplicação desta fábula não se confina à situação da União Soviética comunista, porque a condição de desigualdade de direitos não se restringe a uma época e nem a um território.

No caso do Luxemburgo, um país pequeno, rico, monarquista e de primeiro mundo europeu é um exemplo gritante de desigualdade do sistema de ensino, sempre bastante criticado. Sim, no sistema de ensino de Luxemburgo segue o mote de que “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.

A mais recente crítica veio da Comissão Europeia, através do Relatório de Acompanhamento da Educação e Formação. O relatório diz que a taxa de reprovação em Luxemburgo é elevada, como também a taxa de abandono escolar. Um exemplo claro: só no ensino técnico, 71% dos alunos já foram reprovados. E quem são esses alunos? São sobretudo filhos de imigrantes, filhos de famílias com poucos recursos financeiros, crianças e jovens que não têm as mesmas condições sócio-econômicas de filhos de algumas famílias luxemburguesas ou alemãs, por exemplo.

O que diremos, então, do Brasil. Um país que gasta somas altíssimas com educação e não consegue ensinar o básico a um aluno do fundamental, antigo primário. Algumas escolas nem banheiro tem. Outras mantém o ensino sob árvores ou galpões mal cobertos levados, sobretudo, pela iniciativa dos professores que insistem em ensinar em condições tão adversas. Senão, nem isso.

Estas conclusões não são novas e já foram demonstradas por vários outros estudos. Na prática, os brasileiros ou estrangeiros de melhor nível econômico tem grande vantagem em relação, por exemplo, aos pobres ou refugiados.

Felizmente, há muitos casos de superação, mas o sistema escolar ainda deixa dúvidas. A desigualdade, criada desde o início, mantém “um certo privilégio” para aquelas famílias que crescem em vantagem financeira e que têm seus filhos nas escolas particulares, por exemplo.

O sistema precisa mudar. O estado tem priorizado a escola em tempo integral, o que significa que o aluno fica “internado” numa escola durante o dia todo por conta de uma questão social: ali ele é alimentado e a educação vem junto. É uma solução paliativa para um problema sócio-econômico que não deve mudar tão cedo. O ideal seria essa criança passar a manhã na escola, voltar para casa e encontrar sua família na hora do almoço e ter um tempo para descansar, estudar e brincar. Manter a criança na escola o dia inteiro para ela poder comer é varrer a sujeira para baixo do tapete. A criança só vai bem na escola quando os pais vivem com um mínimo de dignidade.

Uma criança com dez anos de idade mal sabe ler ou escrever. Uma simples soma representa um verdadeiro desastre e nem peça para interpretar um texto.

E isso é muito difícil neste momento. Não bastasse a crise na saúde com essa pandemia de covid-19, ainda temos o desemprego de mais de 10 milhões de pessoas. O trabalho informal cresce cada vez mais porque as pessoas precisam fazer qualquer coisa para por comida na mesa.

E voltamos para George Orwell: uma pequena parcela da sociedade, que é a que tem melhores condições, é aquela que tem melhores chances de sucesso. Essas pessoas não podem se sentir culpadas porque tem acesso a locais ou produtos inacessíveis pela maioria. Deixe essa obrigação para a política sócio-econômica que o país deve priorizar.

O bem-nascido, seja como for, tem obrigação de ser bem-sucedido.

Fontes: notícias e textos adaptados

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