O Avesso das Coisas – O Jeitinho Brasileiro
A culpa é desse tal “jeitinho brasileiro” tão cantado em verso e prosa. Para tudo há um jeitinho. Seja para furar uma fila, comprar um produto esgotado ou simplesmente para ser esperto.
A mídia combateu tanto a “Lei de Gerson”, aquela em que “o importante é levar vantagem em tudo”, e não percebe que isso é apenas um eufemismo para o jeitinho. Não há nada mais mal-educado do que esse jeitinho.
O Brasil não leva o Brasil a sério. Ninguém pensa nos próprios direitos, mas em conseguir alguma forma de vantagem para chegar lá, onde ele deveria ir simplesmente por ter esse direito. A primeira coisa que o indivíduo pensa é em como dar a volta e mostrar ao mundo a esperteza que ele tem em passar a perna nos outros.
O mundo tem ojeriza a isso. Não que eles sejam santos, mas existe um mínimo de respeito quando se trata de engócios e mundo não vê os brasileiros como confiáveis para uma negociação. A corrupção do país também ajuda um pouco nessa imagem.
Não existe lugar onde não haja uma “taxa de urgência” cobrada por algum despachante de serviços. Em vários casos da administração pública, sem a ajuda desses profissionais, as coisas não acontecem. Infelizmente, é a pura verdade.
“Este não é um país sério”. Mesmo que De Gaulle não tenha dito essa frase nos anos sessenta, ainda fica a impressão de que nada fizemos para melhorar isso. Os negócios pelo mundo dependem da postura correta de seus empresários e, principalmente, dos governantes. Os empresários seguem os governantes e estes não querem saber de nada.
Uma coisa leva à outra e, conforme a música, “a gente vai levando…”
NT: “O Avesso das Coisas”, 1988, é uma prosa de Carlos Drummond de Andrade