Pirâmides Financeiras

Cotidiano

Também conhecido como esquema Ponzi — em homenagem a Charles Ponzi, seu precursor — a pirâmide financeira é uma categoria de investimento que diz garantir rendimentos muito superiores à aqueles comuns no mercado. Só que, para pagar o investimento do sujeito “A”, é necessário que os sujeitos “B”, “C”, “D”, e outros mais, entrem nessa ciranda com investimentos que paguem os lucros do sujeito “A”. Isso exige que ninguém saia do esquema e acaba gerando uma corrente sem fim onde mais e mais pessoas precisam entrar para pagar os lucros prometidos. Uma hora não haverão investidores suficientes e o esquema todo entra em colapso fazendo com que muitos tenham prejuízos consideráveis. Só o esquema montado por Madoff gerou prejuízos de mais de 60 bilhões de dólares aos investidores ! Por essa razão, o esquema de pirâmides é considerado ilegal e criminoso.

Após 12 anos preso, o investidor americano Bernard L. Madoff morreu 14 de abril de 2021, aos 82 anos, em um hospital penitenciário na Carolina do Norte, por conta de uma falência renal. Poucos antes, ele havia solicitado a liberação devido à saúde precária. No que dependesse da justiça americana, ele não sairia da cadeia vivo e foi o que aconteceu.

Em 2009, Madoff foi condenado a 150 anos de prisão na maior pirâmide financeira da história de Wall Street. O esquema lesou milhares de pessoas de alta renda, gestores de fundos e pecúlios de universidades americanas, gerando prejuízos estimados em US$ 60 bilhões.

Madoff foi o exemplo de que, sem controles estritos, uma boa conversa pode enganar o mais cauteloso dos investidores. Sua origem era humilde. Neto de imigrantes judeus do Leste Europeu, ele casou com a filha de um contador. Pagou a faculdade (e o lançamento de sua empresa de investimentos) com o dinheiro ganho trabalhando como salva-vidas e instalando hidrantes de incêndio, nos anos 1960.

Em vez de tentar competir com os gigantes, sua empresa vendia ações negociadas no mercado de balcão que, na época, era muito maior e mais diversificado do que as bolsas de valores americanas. Além disso, ele sempre gostou da tecnologia, e foi um dos primeiros a usar computadores nos negócios. Isso o tornou um dos fundadores do mercado eletrônico que movimenta trilhões de dólares, o Nasdaq. Ao longo do tempo, ele tornou-se uma das vozes mais respeitadas do mercado de capitais americano. Ou seja, ele tinha muito pedigree. A palavra dele era mais que respeitada e tê-lo como parceiro de negócios era uma excelente propaganda pessoal.

Só que, desde o começo, Madoff fraudou seus clientes. Ele não prometia lucros espetaculares como fazem os grandes esquemas de pirâmides, mas uma renda constante, que soava como música para os conservadores naqueles tempos ruins. Assim ele gerava filas de pessoas interessadas em investir com ele, gerando recursos para pagar os investidores que tinham chegado antes, em um esquema mais do que clássico de pirâmide. A casa caiu em 2008. A crise americana, ocasionada pelas hipotecas, fez parar a entrada de recursos e muitos precisaram pedir o dinheiro investido para pagar dívidas, mas Madoff não foi capaz de honrar. Em dezembro de 2008 ele acabou confessando a fraude aos dois filhos, que trabalhavam com ele e não sabiam.

Madoff pagou caro por tudo. Além de ter todos os seus bens confiscados, seu filho mais velho se matou dois anos após a descoberta da fraude e o caçula morreu de câncer pouco depois. Segundo se soube depois, devido ao stress do julgamento do pai.  E claro, a esposa o culpou por tudo e o deixou.

E isso não foi só lá nos Estados Unidos. A fraude não poupou alguns brasileiros que eram cotistas de fundos que investiam com Madoff. Como as aplicações financeiras no exterior não eram bem vistas por aqui, a lista de brasileiros é pequena.

Os espertalhões brasileiros também fizeram das suas e em grande estilo. Veja alguns exemplos:

Fazendas Reunidas Boi Gordo
Entre as décadas de 1980 e 1990, milhares de pessoas investiram no negócio de “engorda do gado”, que prometia retorno bastante elevado em cerca de um ano e meio, sem dar muito trabalho. Para isso, os golpistas fizeram uma divulgação forte em TVs e rádios, com anúncios em horário nobre.  Chegou a ter anúncios estrelados por Antonio Fagundes !  A  falência veio em 2004 e eles desapareceram com R$ 4 bilhões. Só então esse esquema foi investigado pelas autoridades. A justiça conseguiu identificar o grupo que atuava no esquema e foi determinada a venda de bens desses criminosos — que mal dava para pagar 10% do investimento — e de dezenas de fazendas com milhares de hectares.

Telexfree
Com um prejuízo de quase US$ 3 bilhões causado a clientes de todo o mundo, a Telexfree foi um dos golpes financeiros que mais marcou a década passada, com a empresa chegando a patrocinar o clube de futebol Botafogo em 2014, e investir milhões em propaganda. O esquema era baseado na realização de ligações telefônicas via internet e prometia 200% a 250% de lucro à medida que os “divulgadores”, que compram e revendem pacote de contas, indicassem novos candidatos à pirâmide.
O golpe foi desbancado ainda em 2014, quando uma megaoperação ordenou o fim da empresa ao acusá-la de ser um esquema de pirâmide e atuar como instituição clandestina, captando, administrando e intermediando recursos de terceiros por meio de processos ilegais. Em 2020, Carlos Nataniel Wanzeler, um dos donos da TelexFree, e o sócio Carlos Roberto Costa foram condenados, e até hoje milhares de pessoas aguardam indenização.

Atlas Quantum e as criptomoedas
Com a ascensão das criptomoedas nos últimos anos, centenas de pessoas passaram a aplicar golpes de “scams” e “rug pulls”, abrindo corretoras de tokens e coins para, em seguida, desaparecer com o dinheiro dos clientes, muitas vezes usando como desculpa um suposto ataque hacker. Um dos casos mais recentes foi a empresa Atlas Quantum, que repentinamente travou o saque de investidores após o anúncio de falsas promessas de pagamento, sob a justificativa de ter quebrado.   Estima-se que a companhia tenha causado um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão no Brasil, chegando a afetar a carteira de celebridades, como a do comediante ex-CQC Marcelo Tas. Hoje, um longo processo corre na Justiça e os sócios da empresa se defendem alegando falta de recursos para indenizar clientes e uma dívida causada pela deliberação do antigo regulador.

Porque uma pessoa tão competente cai num golpe desses ? Porque quem tem 100, quer ter 101. A ganância deixa a pessoa cega para os problemas que podem advir da falta de cautela. Foi assim que Anna Sorokin enganou muita gente em Nova Iorque.

Ela se apresentava como Anna Delvey, herdeira alemã de uma fortuna de 60 milhões de euros, e em pouco tempo virou a queridinha da alta sociedade de Nova York. Vivia no luxo dos hotéis cinco estrelas, era sempre convidada para festas exclusivas, vestia as melhores roupas de grife, viajava em jatos particulares e distribuía gorjetas de US$ 100.
Mas segundo Cyrus Vance, procurador de Manhattan, seu nome verdadeiro é Anna Sorokin. Ela tem 28 anos, nasceu na Rússia e não tem dinheiro algum.   A trajetória da falsa herdeira que, ao longo de dez meses perpetrou calotes de US$ 275 mil, foi bastante divulgada em reportagens na imprensa e até já virou série da Netflix criada por Shonda Rhimes (Julia Garner faz o papel de Anna).

Ela não chegou nem perto de ser uma grande estelionatária, considerando-se os valores envolvidos. Mas o caso ganhou repercussão por envolver grandes personalidades da elite nova-iorquina, que deram crédito à história dela e foram enganados.

Alguns nem quiseram prestar queixa para não correrem o risco de exposição.

Leia mais na Wikipedia sobre:
Anna Sorokin

Bernard Madoff

Fazendas Reunidas Boi Gordo

Texto escrito e adaptado de várias fontes.

 

Anúncios

Deixe um comentário