Ucrânia ? E a Síria, Afeganistão, Sudão…

Política

O mundo está de olho na Ucrânia e na sua população fugitiva, refugiada ou, simplesmente, resignada. Os bombardeios russos não param e a mídia mostra cada vez mais os horrores de uma guerra sem razão (como se houvesse alguma racionalidade em uma guerra).  Existem órfãos em todos os lados, em todas as guerras, conflitos, revoltas… é uma história mais que conhecida.

A Rússia, com o czar Putin, vem monopolizando as notícias internacionais e é o alvo preferido dos países da OTAN, que nada mais serão do que escudos, caso num conflito venha a acontecer, e o continente europeu será, mais uma vez, o palco de uma guerra ainda mais devastadora.

Putin
Presidente Russo Vladimir Putin – 23 de Julho de 2020. Sputnik/Alexei Druzhinin/Kremlin via REUTERS

Os EUA invadiram o Iraque, o Afeganistão e saíram expulsos de lá com a desculpa do “dever cumprido” ou a “impossibilidade de continuar perdendo vidas americanas”. Na verdade eles não suportavam mais ver o inimigo ganhando territórios, saíram correndo e conseguiram, com isso, recriar o Taliban, o Isis e a Al Qaeda enquanto fizeram seu trabalho de “democratizar” um lugar em que o governo é regido pela religião.

Ninguém fala das crianças afegãs que estão nas mãos implacáveis do Talibã, que voltou a usar a tortura como padrão de interrogatórios, além das execuções sumárias de inimigos políticos e vetos cada vez maiores às atividades femininas. Mas falam bastante das crianças ucranianas, pois esse é o foco e não o oriente médio. Seja onde for, as mulheres e crianças são as que mais sofrem.

O mesmo acontece com o  Sudão, assim como vários países africanos, que sofrem com guerras civis intermináveis sem grande cobertura pela mídia.  A última notícia do Sudão diz que os estrangeiros estão sendo “aconselhados” a deixar o país.  E bem depressa !

Lembrar da invasão ao Iraque é o mesmo que colocar os EUA no centro de uma discussão que eles não querem. Em 1994, os russos estavam tentando recuperar o Afeganistão, pois o regime ali imposto não lhes era favorável. Aí os EUA armaram, treinaram e ajudaram o então governo afegão a enfrentar os russos. Pouco tempo depois os russos abandonaram a batalha e os americanos festejaram o que consideravam uma derrota russa. Pois é: os EUA pensaram ter derrotado os russos, armaram o Talibã (que era o governo contra o qual a Rússia lutava) e fortaleceram a Al Qaeda. O resultado prático de tudo isso é facílimo de ver e a retirada americana, décadas depois, foi um desastre maior ainda.   Ah sim; em 2003, uma célula da Al Qaeda cresceu a ponto de formar o temido Estado Islâmico, que é inimigo de todo mundo.

Crianças afegãs e soldado americano

Moscou deveria aprender com Pequim. Enquanto o mundo está olhando para a Ucrânia e suas crianças, os chineses estão comendo pelas bordas, intensificando investimentos em países sul-americanos, africanos ou não muito desenvolvidos e trazendo-os para seu bloco de influências. Não adianta lutar contra os EUA e a China já entendeu isso. Taiwan é mais uma desculpa ou distração nesse jogo de potências.

Invadir a Ucrânia pode ter sido a maior bobagem que Putin fez na Europa desde que alguém tentou invadir a Rússia na Segunda Guerra Mundial. Pode ser que Putin tenha imaginado que seria fácil para a Europa, e a OTAN, aceitar a invasão da Ucrânia, assim como foi com a anexação da península da Crimeia em 2014.

Esta invasão não foi diferente de qualquer outra, arquitetada por qualquer país: soldados bombardeando tudo, matando civis, estuprando mulheres e, de quebra, promovendo uma das maiores fugas de refugiados civis desde a Segunda Guerra. Lembremo-nos que Putin já ameaçou usar armas nucleares. Isso explica porque a Alemanha anunciou o aumento nos gastos militares e porque a Suécia e a Finlândia abandonaram mais de 70 anos de neutralidade para serem membros da Otan.

Joschka Fischer em 2005. (AP Photo/Christof Stache)

Joschka Fischer, ex-ministro alemão das Relações Exteriores, disse certa vez: “O status quo anterior não voltará. Você está vendo uma grande mudança na Europa em resposta à Rússia – não com base na pressão americana, mas porque a percepção de ameaça hoje é diferente: Putin não está falando só da Ucrânia, mas de todos nós e do nosso modo de liberdade.

A verdade é que Putin invadiu a Europa.

 

 

 

Texto: Renzo Grosso

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