Bustani – O Ex-Embaixador Brasileiro Demitido por Washington

Política

O caso da destituição do embaixador brasileiro José Maurício Bustani do cargo de presidente da Organização para Proibição das Armas Químicas (OPAQ)

Bustani presidia a OPAQ desde sua fundação em 1997, e, em 2000, foi reeleito por unanimidade pelos membros da entidade. Mas foi demitido em 2002 de uma forma bastante controversa.

Logotipo da OPAC

O ex-diplomata brasileiro protagonizou um dos episódios mais polêmicos nos dias que antecederam a Guerra do Iraque. Em abril de 2002, ele foi demitido do cargo de diretor-geral da OPAQ após intenso lobby de Washington.

Na época, Bustani estava tentando convencer o Iraque a assinar a OPAQ, o que obrigaria o regime de Saddam Hussein a permitir aos inspetores acesso total a quaisquer armas químicas à sua disposição. Alegações de que Saddam tinha “arsenais” de armas químicas foram o principal argumento de guerra apresentado pelo governo de George W. Bush para justificar a invasão do país do Oriente Médio.

Bustani diz que tinha informação de “inteligência suficiente” de que as armas químicas do Iraque tinham sido destruídas após a Guerra do Golfo de 1990-91 e que o Iraque “não tinha capacidade” para repor os estoques graças às sanções sob as quais estava sujeito desde aquele conflito.

Saddam Hussein

“Recebi uma carta do governo iraquiano no final de 2001 dizendo que estava ‘pronto’ para aceitar a Convenção de Armas Químicas e as inspeções no país”, lembra o ex-diplomata. “Foi um momento de pura felicidade para mim, mas os americanos não gostaram nada da notícia.”

A correspondência com Bagdá ocorreu um pouco antes do memorável discurso do Estado da União de Bush em janeiro de 2002, o primeiro após os ataques de 11 de setembro. No discurso, ele se referiu ao Irã, Iraque e Coreia do Norte como um “eixo do mal” e acusou o regime de Saddam de conspirar para desenvolver armas químicas e nucleares. Bustani tentou mostrar que Saddam não tinha armas químicas e, com isso, evitar o conflito.

George Bush

“Meus sentimentos não mudaram nesses 20 anos”, disse o ex-diplomata brasileiro de 77 anos à BBC.

“Houve uma guerra inútil que matou um grande número de pessoas de ambos os lados e a única coisa que esse conflito provou foi que você pode manipular a sociedade internacional pela força bruta”, acrescenta. “Acredito que Washington já tinha algum plano de vingança pelo 11 de setembro, pois estavam convencidos de que Saddam estava ligado aos ataques. Assim que contei a eles sobre o que sabíamos sobre o Iraque, a campanha para me expulsar começou.”

O governo dos EUA fez críticas ao “estilo de gestão” do brasileiro e, posteriormente, fez acusações de “má gestão financeira”, “ser tendencioso” e de adotar “iniciativas imprudentes”. Foi uma mudança dramática em relação ao endosso que havia recebido do então secretário de Estado Colin Powell que, em 2001, escreveu a Bustani para agradecê-lo por seu trabalho “impressionante”.

Soldados na Guerra do Iraque

Como maior contribuinte do orçamento da Opaq, os EUA ameaçaram retirar seu apoio financeiro à agência.
No dia 21 de abril, a pedido dos EUA, foi realizada uma reunião especial que selou o destino do brasileiro em votação especial: 48 países se manifestaram a favor de seu afastamento, com sete contra e 43 abstenções.

Um funcionário dos EUA declarou ao jornal Washington Post em 23 de abril: “Vários países estão preocupados com seu estilo de gestão há algum tempo, e todos nós decidimos convencê-lo a sair discretamente e encontrar uma saída apropriada. Ele optou por não fazê-lo”.

Criança vítima de armas químicas recebendo cuidados médicos

O mesmo artigo observou que o episódio “marcou a campanha pública mais amarga dos Estados Unidos para forçar um alto funcionário internacional a deixar o cargo desde que o governo Clinton bloqueou a reeleição do secretário-geral da ONU, Boutros Ghali, em 1996″.

Em seus cinco anos no cargo, Bustani supervisionou a expansão da OPAQ de 87 para 145 países membros e a destruição de grande parte das instalações de armas químicas do mundo. Mais tarde, ele serviria como embaixador do Brasil no Reino Unido e na França, vindo a se aposentar em 2015.

É comum que várias grandes personalidades passem de heróis a vilões conforme o gosto de Washington.  Virar a mesa é uma característica de nacionalistas que “puxam” os louros para os seus interesses em detrimento dos verdadeiros heróis.  E não fica só nisso: a ONU e vários aliados foram contra a invasão norte-americana no Iraque. Os norte-americanos não deram a mínima, foram lá, mataram Saddam Hussein (que mantinha o país sob controle), ocuparam o governo, destruíram o país, perceberam a fria em que se meteram e foram embora largando todos os seus aliados locais na mão (os curdos que o digam, pois foram dizimados).   O mesmo fizeram no Afeganistão.   Ninguém falou nada e a vida continua.

Texto de Renzo Grosso adaptado de artigo da BBC e outras publicações.

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